Crítica JB - Roberto Pereira

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O reino do outro mundo – Orixás

Cia Rubens Barbot Teatro de Dança apresenta uma nova leitura do divino bailado dos Orixás.
Estréia dia 15 de maio às 20h na Catedral Anglicana São Paulo Apóstolo (Santa Teresa)

Um espetáculo de dança contemporânea baseado nos movimentos coreográficos presentes nos terreiros de candomblé, com trilha sonora reunindo, entre outros, Beatles e Handel, encenado no interior de uma igreja. Esta inusitada combinação reflete a essência de O reino do outro mundo – Orixás, mais novo espetáculo da Cia Rubens Barbot Teatro de Dança.

O espetáculo nasce do desejo de retratar uma roda de candomblé com toques contemporâneos, observada por diferentes pontos de vista. Para isso, Rubens Barbot, coreógrafo, bailarino e fundador da Cia que leva seu nome, convidou a bailarina, coreógrafa e atriz Valeria Monã que junto com Luís Monteiro, Elvio Assunção e Rubens Rocha (todos ex-bailarinos da companhia) assinam todo o trabalho coreográfico junto com Barbot.
Em O reino do outro mundo – Orixás, nenhum orixá será realizado com os toques correspondentes a eles: as músicas foram escolhidas por uma afinidade com a personalidade de cada orixá e seguindo a pesquisa pessoal do diretor do espetáculo. Assim, Exu dança com música de Carl Orff, Oxum dança ao som de uma ária da obra O Messias de Handel, Oxalá com um hino da Igreja Anglicana gravado na catedral de Wedmister, Yemanjá é dançada com música do atual Vangelis, Ogum ao som de jazz africano, Naná e Xangô ao som dos Beatles. John Lennon, Hanks Jones, músicas primitivas africanas entre outros autores, efeitos sonoros e a percussão ao vivo de Jô Ventura também compõem a trilha sonora do espetáculo.

Para encenar O reino do outro mundo – Orixás, Rubens Barbot e Gatto Larsen (também diretor da Cia), buscavam um espaço dinâmico, que permitisse a maior liberdade possível aos movimentos dos bailarinos. Impensável - aos olhos de alguns, o conjunto arquitetônico da Catedral Anglicana São Paulo Apóstolo (localizada em Santa Teresa) revelou-se perfeito para a apresentação do espetáculo. Os dez bailarinos em cena exibem suas coreografias explorando todos os espaços do interior da catedral, enquanto o publico assistirá tudo sentado nos bancos do templo. “Isto é apenas um exemplo dos trilhos que vamos percorrer para realizar um espetáculo multicolorido e pluralista culturalmente falando, livre para todas as idades e símbolo da resistência da cultura negra”, explica Larsen.
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A pesquisa para a criação de O reino do outro mundo – Orixás foi realizada pelo artista plástico Paulo Husek - também responsável pelo desenho dos figurinos originais de cada Orixá. A partir daí, Barbot, Larsen e o próprio Husek se debruçaram para chegar a um resultado contemporâneo em alguns casos e uma realização fiel no resultado em outros. A confecção dos figurinos ficou por conta de Barbot, confeccionando muitos deles totalmente a mão baseado num estudo sobre Orixás e roupas através dos tempos. Todavia, os figurinos respondem a uma construção teatral utilizando, na maioria dos casos, reciclagem de materiais.
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Larsen, além de formar a equipe de criação, construiu uma série de adereços e “cabeças” para composição do figurino do espetáculo. O reino do outro mundo – Orixás é um espetáculo leve, vivo, alegre e muito alegórico. Transita pela harmonia, paz e união de povos, etnias, religiões, enfim, toda a humanidade. É antes de tudo um exercício de liberdade e respeito - premissa básica e conceito que norteia toda a trajetória da Cia Rubens Barbot Teatro de Dança.
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O reino do outro mundo – Orixás recebeu em 2007 o Premio Klaus Vianna – Funarte/Petrobrás.

Ao cronista Arthur Xexéo do Jornal O Globo

CARTA MANIFESTO - POR: GATTO LARSEN

Ao cronista Arthur Xexéo do Jornal O Globo

Soube por alto da recente encrenca em que o Senhor se envolveu com a “dança contemporânea” do Rio de Janeiro, mas confesso que não fiz questão nenhuma de ter mais informações a respeito.
Ontem, dia 27 de maio, vendo um site de dança do Sul do país, tive a oportunidade de dar uma olhada na crônica que tanto “espanto” causou entre as pessoas do meio.
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Acredito que liberdade de expressão seja isso sim, cada um diz o que pensa e concordo em muitos pontos com suas colocações, mesmo porque hoje se cometem inúmeros “atropelos” em nome do contemporâneo, assim como se cometeram também, há tempos atrás, com o chamado “experimental”, a tal ponto que poucos diretores têm a coragem de utilizar tal nome para designar seus trabalhos, mesmo que experimentais o sejam.
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Mas sou defensor da livre expressão e do respeito às idéias individuais e da tolerância, seja religiosa, política, artística, filosófica, enfim, há espaço para todos, ou pelo menos deveria haver. E é aí, justamente nesse ponto, que abertamente discordo do conteúdo de seu texto.
Seu texto refere-se a uma dança contemporânea praticada e endeusada na Zona Sul, feita para a Zona Sul e com a cara, com certeza, da Zona Sul. Como se essa fosse a única dança contemporânea no Rio de Janeiro.
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Lamento lhe informar que do mesmo jeito que a imprensa em geral é excludente e seletiva de acordo com seus interesses, o Senhor vem se comportando da mesma maneira. Tomou sua decisão, bateu o martelo e deu sua opinião parcial que, como verdade, fulgura num meio de comunicação que atinge a muitas e muitas pessoas.
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Há muitas mais opções de trabalhos no “reino da dança contemporânea” do que o Senhor imagina, mas as limitações impostas pela exclusão, a falta de interesse e o descaso com o que os jornais importantes negam-se a publicar sempre e fazem com que uma pessoa como o Senhor não vá, não assista, não tome conhecimento e faça também seus atropelos na sua coluna.
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Estou falando especificamente da companhia Rubens Barbot Teatro de Dança, da qual sou produtor há dezoito anos, nos quais viajamos pelo país e pelo mundo, com ótimos aplausos da crítica e de público. Sempre nossa assessoria de imprensa tomou o cuidado de enviar release com as informações, fotos e convites para o Senhor.
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Nunca fez parte da nossa platéia, portanto não pode generalizar (acreditamos). O Senhor não conhece a muitos e nem a nós, que, por sinal, estamos em cartaz com um espetáculo “contemporâneo” sobre os Orixás encenado na Catedral Anglicana de Santa Teresa, que desde o dia 15 de maio lota todas as noites (e o público volta várias vezes).
Mas a companhia é afro-brasileira e não está na Zona Sul e não tem apoio da Rede Globo, portanto por que se incomodar em sair de casa e ir ao Bairro de Santa Teresa assistir a um espetáculo sobre uma cultura que possivelmente não figura na sua ampla informação e cultural geral?
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Lamento que grande parte das redes de comunicação, algo em torno de 90%, atue deste modo e com essa finalidade, mesmo assim, estamos no mercado, “off”, mas estamos há dezoito anos e por opção (se fosse em New York, por exemplo, o Senhor provavelmente fosse e escrevesse. Escrever sobre um espetáculo off em New York dá status).
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Gosto de muitas coisas que o Senhor escreve, mas, muitas vezes, erra o pênalti.

Cordialmente,
Gatto Larsen